Editorial - Novembro 2017 - Vol.3

Darío Galante (Buenos Aires, Argentina)

 

Darío Galante

 

O terceiro número de Pharmakon Digital é dedicado às Psicoses. Partimos da conferência que Jésus Santiago nos ofereceu, “Droga, ruptura fálica e psicose ordinária”, na qual sustenta que a droga pode ser um Nome-do-pai na relação que o sujeito tem com seu corpo.


Na Seção Entrevistas Fabián Naparstek destaca que a droga pode cumprir uma função de amarração ao redor de um delírio, ou que pode funcionar como um remédio que o sujeito toma para aplacar a invasão de gozo.


Na Seção Clássicos encontramos “Três observações sobre a toxicomania”. Este trabalho de Éric Laurent é um dos textos que marcaram o começo de nossas investigações sobre a toxicomania. Interessa-nos publicá-lo especialmente neste número porque ali se estabelece o ponto de encontro entre a toxicomania e as psicoses: a ruptura com o gozo fálico.
Na Seção Textos Temáticos Ernesto Sinatra pergunta o que ocorre no campo das psicoses quando a marca do “não se pode” está ausente. Ilustra, a partir de um caso clínico, como é que um sujeito psicótico, a partir de uma formação neológica produzida em análise, pode nomear o circuito de gozo que o consumia e contar com uma ferramenta para aceder a uma saída.


Antônio Beneti se interroga sobre a possibilidade de que a toxicomania se constitua de duas maneiras. A primeira como sinthome e a segunda como CMB (compensatory make-believe).


Por sua parte, Cesar Skaf, partindo da clínica da elisão do falo, presente nas toxicomanias, faz uma aproximação em direção ao campo das psicoses ordinárias.


Leonardo Scofield aborda os possíveis efeitos terapêuticos das toxicomanias aplicados às desordens que acontecem em casos de psicoses. A leitura de três recortes clínicos localiza os modos singulares que cada ser falante constrói com a droga para reordenar ou evitar a desordem na juntura mais íntima de seu sentimento de vida.


Liliana Aguilar se pergunta se o ordinário da psicose e da toxicomania abala a clássica relação entre toxicomania e psicose, onde a primeira pode cumprir uma função de suplência para a segunda.


Continuando, Pierre Sidon propõe que a adição é a medida do laço social de cada um, na era da ciência.


Em “Rompendo o efeito do afeto” Jean-Marc Josson, recorrendo ao ultimo ensino de Lacan sustenta que o significante que tem um efeito de afeto não é o significante S1 articulado a um significante S2, mas um significante isolado, um S1 sozinho: a droga então vem no lugar de romper o afeto.
Irene Domínguez nos recorda que, em seus fundamentos, no seio da psicanálise lacaniana, a toxicomania e a psicose não nadam nas mesmas águas. Enquanto que a psicose é uma estrutura clínica, a toxicomania, por sua vez, não é um conceito psicanalítico, mas um termo tomado do campo do Outro, da psiquiatria, e inclusive da sociologia.


No entanto, Epaminondas Theodoridis precisa que, o modo de uso e o papel da droga no funcionamento subjetivo podem esclarecer-nos quanto à estrutura do sujeito.


Finalmente, Viviane Tinoco Martins nos adverte sobre a prudência necessária que se tem que ter, em cada caso que a toxicomania e a psicose se cruzam, uma vez que, ainda que o recurso à droga possa cumprir a função de compensar o desequilíbrio psíquico característico de uma psicose, tal função implica certas precariedades e pode participar da conjuntura de um desencadeamento.


Na Seção Adolescência, Nadine Page sustenta que o consumo de drogas não é, sempre, somente uma modalidade de separação do Outro. Apresenta o caso de um sujeito em que seu consumo de esteroides desvela a função de tentativa de refiliação com o laço social.


E finalmente, na Seção Estéticas do Consumo Eugenia Flórez sustenta que o assim chamado toxicômano, por não se deixar enganar pela equivocidade do significante, nos permite verificar o que Lacan assinala a respeito do gozo, que em todo caso, é gozo do corpo. As toxicomanias como as psicoses nos deixam ver de maneiras menos veladas que o corpo como território de gozo está pronto  para o uso. Deste modo, a noção de uso pode ser tomada em oposição ao interpretável via sentido, tal como Lacan a introduz, pensando no elemento mínimo de corda ou redondel que, antes de ser interpretado, está dado ao uso.


De sua parte, Luis Salamone nos cativa com sua leitura de um dos ícones do rock: Pink Floyd. A leitura que faz de sua alma máter, Syd Barret, nos leva a pensar a loucura que habita em cada um. Sustenta que “A loucura de Barret é a que deu origem à banda e seguiu inspirando grandes temas, a loucura está neles como está em nós. Poética forma de nos dizer que somos todos loucos”. Uma apropriada forma de nos dispor a seguir investigando as toxicomanias, desta vez, apoiando-nos nas psicoses.


Boa leitura!


Tradução: Maria Wilma S. de Faria